Episódios de Terror do Chapolin


Por Chimpa

O personagem Chapolin estreou como um quadro dentro do programa Chespirito nos anos 70 no México. Criado e interpretado por Roberto Gomez Bolaños, rapidamente se tornou um sucesso até hoje, em especial na América Latina. O assunto deste post é sobre os episódios "de terror" do Chapolin que sempre admirei. Como acabei conseguindo a série completa em fan-DVD (pelo menos os que passaram no Brasil) acabei resolvendo fazer uma listagem e resenhas dos episódios que flertam com o terror e o sobrenatural. Não coloquei na lista episódios que ao meu ver teriam mais a ver com fantasia (o da bruxa Baratuxa, por exemplo) e com ficção-científica (o dos marcianos, o bebê jupteriano e tantos outros). Comento principalmente os que foram exibidos no Brasil.





O Vampiro (El Vampiro, 1972) -esquete

Eu costumo dizer que este é um dos meus episódios favoritos do Chapolin, isso porque quando era pequeno ele passava poucas vezes e sempre achei bem nonsense. Tudo começa quando uma jovem (Maria Antonieta de Las Nieves, a Chiquinha) é atacada por um vampiro. Ao gritar, acorda seu pai (Ramón Valdez, o Seu Madruga). Com medo do vampiro, acabam chamando o Chapolin Colorado (Roberto Gomez Bolaños) que tem que derrotar a criatura das trevas. O que eu achava e acho mais legal é o fato de como esse episódio é pobre e por isso mesmo muito engraçado. Em primeiro lugar o eu nunca tinha visto um vampiro careca até então! O episódio ainda inaugura gags que se tornariam recorrentes, ainda mais nesses episódios de terror: a passagem secreta nas paredes e o monstro deitado na cama coberto pelo lençol. O modo como Chapolin derrota o vampiro é hilária. Ele adianta os ponteiros do relógio e o dia amanhece! "Você é o máximo Chapolin!" Diz, o Seu Madruga no fim.



La Casa de Los Fantasmas (1972) esquete

Uma menina (De Las Nieves) e seu pai (Valdez) compram uma casa. A menina está excitadíssima, pois a venderam como sendo uma casa asssombrada, só que lá nada acontece. É só o Chapolin aparecer que coisas estranhas passam a acontecer como objetos levitando e aparições de fantasmas


La Llorona (1972) esquete

Num cemitério à noite, um coveiro (Valdez) está tranquilamente trabalhando quando ouve um choro de mulher. Quem aparece é a Chorona (De Las Nieves) que pergunta onde estão seus filhos. Assustadíssimo, o coveiro pede ajuda ao Chapolin já que a lenda diz que quando a Chorona aparece, os cadáveres se levantam. Não dá outra e já aparece um zumbi (Villagran) pra atazanar o Vermelhinho. Também conta com um eficiente clima que conta com a lenda da Chorona, bastante famosa nos países de língua espanhola. Infelizmente esse episódio nunca foi exibido no Brasil. É nele que há também um ótimo diálogo entre o Chapolin e a Chorona.

"Não quer trabalhar numa telenovela?"
"Sou a Chorona"
"Por isso"

Teve um remake 10 anos depois  muitíssimo inferior.


As Pirâmides do Egito (Una Mumia Bastante Egipcia, 1973)



Chapolin já havia se tornado um seriado com 20 minutos de duração. O episódio já começa
com uma piada fantástica. Ao mostrar cenas reais (tiradas de algum documentário) das pirâmides do Egito, o narrador diz: "Durante anos, pesquisadores tentaram descobrir como as pirâmides foram construídas. A solução mais provável é: quem sabe?". Aqui, um "grupo" arqueológico (Ramon Valdez, Florinda Meza - a Dona Florinda- e Carlos Villagran, o Kiko) adentram uma pirâmide do Egito, se deparam com um sacerdote egípcio (Ruben Aguirre, o Prof. Girafales) que diz que se entrarem na pirâmide serão amaldiçoados pela múmia (essas coisas clichês de filmes de múmia) Quando pensam em dar no pé, Villagran acaba sendo raptado pelo sacerdote, o que obriga os dois a entrarem na pirâmide para resgatá-lo. Claro, com a ajuda do Chapolin Colorado. Quase todo o primeiro ato se passa na entrada da pirâmide, e por isso mesmo é divertido quando entram na pirâmide acompanhados de uma trilha sonora macabra (muito boa a trilha que toca quanto eles entram na sala dos mortos). A presença da múmia também é clássica. Destaque para o diálogo entre o sacerdote e Chapolin, ao compararem seus bíceps: "Veja, as pirâmides do Egito."/ "Veja, o colosso do Ceará!". Ah, estou querendo saber qual é a música que toca quando eles entram na pirâmide. Quem souber, dá um toque (ui!).


A Casa Mal Assombrada - 1ª VERSÃO (En la casa del fantasma, hasta los muertos se asustan, 1974)




Nessa primeira versão de um episódio da Casa Assombrada, Carlos (Villagran) e sua esposa (Meza) recebem como herança do avô falecido dele uma mansão caindo aos pedaços. A única coisa que os impediria de receber o imóvel seria a quebra de uma cláusula do testamento que seria a de passar uma noite na casa. Apesar da mansão caindo de velha, aparentemente não há nada a temer, até que estranhos personagens e situações assustadoras dão o ar de sua (des)graça. Como vários outros episódios da série, esse da casa assombrada teria um remake mais tarde com mais recursos e uma troca de personagens. Essa primeira versão é a minha preferida, com um clima de filme de terror, momentos antológicos e personagens idem. Impossível de esquecer da "Louca dos Dinossauros" (Angelines Fernandez, a bruxa do 71) que cisma que há dinossauros e dragões fazendo ninho na chaminé : "Um é roxo com bolinhas amarelas... E com placa de Santos!"(no original é com "placa de Guadalajara"). O episódio ainda conta com o mordomo feito por Ramon Valdez com olheiras e sempre carregando um candelabro. Entre os momentos antológicos há ainda a cadeira de balanço que começa a se balançar sozinha - " Olha, uma cadeira de balanço automática!", o esqueleto que aparece no sofá, sem contar o eficiente clima de terror com uma casa sem luz, cheia de teias de aranha e ilumiada pela luz dos relâmpagos e velas. O final conta com um esqueleto voando pelo cenário no melhor estilo William Castle!


A Mansão dos Duendes (La mansión de los duendes, 1975)

Carlos (Villagran) estranha quando esposa (Meza) pede que se mudem da casa que acabaram de comprar. Isso porque a mulher está vendo pequenos duendes espalhados pela casa (olha só, bem antes da Xuxa!). O marido, cético, não dá ouvidos até que as coisas se complicam a ponto de chamarem o Chapolin. Esse é outro episódio eficiente, usando pouca luz pra criar um clima de mistério. A apresentação do personagem de Ramon Valdéz é tétrica. A porta da casa é aberta e ele está do outro lado da rua, misterioso e iluminado pelos flashes dos relâmpagos. O estranho revela que duendes adoram "água de Jamaica" (?!?!). Chapolin tem que intervir e lutar contra os pequenos duendes que são fantoches engraçadíssimos. Tem um fantoche de um diabinho que é sinistro, eu tinha um medo danado dele! Nos anos 80 foi refilmado como esquete e trazia a mesma trama, com atores diferentes nos papéis.


O Tesouro do Pirata Fantasma (El fantasma del pirata, 1975)

Ao ficar com o carro sem gasolina no meio do nada, uma mulher (Meza) com cabelo afro loiro (!!!), procura abrigo numa cantina abandonada. Lá conhece um palerma (Villagran) que diz estar procurando um tesouro enterrado. Diz ainda que é tatatatatatatatatatatatatata-taraneto do pirata Alma Negra (Valdez) e recebe dicas de onde está o tesouro do fantasma do falecido. É outro episódio que se utiliza bem da iluminação e fotografia. As aparições do pirata são memoráveis. O pirata Alma Negra já havia enfrentando o Chapolin em um episódio anterior, só que daquela vez estava vivo.



O Abominável Homem das Neves (El misterio del abominable hombre de las nieves, 1976)

Numa cabana na montanha durante uma tempestade de neve, um casal (Villagran e Meza) resolve se abrigar. Só que não contavam com a presença de um ser estranho, um Ieti (Valdez). Aqui a boa utilização da cenografia e iluminação se faz presente novamente. A tempestade de neve e o som da ventania ajudam a criar o clima e a cena em que os personagens comentam o que estão vendo através da janela (sem que a câmera mostre) me lembram aqueles filmes das antigas em que tudo era mais sugerido: "Olhe, uma criatura... Parece metade homem metade animal". Engraçado mesmo é ver o Seu Madruga com uma maquiagem toda branca e uma roupa de pelúcia! A dublagem brasileira usou uma música da trilha sonora original de "A Hora do Pesadelo 4" para sonorizar esse episódio. Ficou bem mais sinistro.



De acordo com o Diabo (El Chirrín Chirrión del Diablo, 1976)

Muitos não consideram um episódio de terror, mas eu acho que pode ser incluído sim, ao contrário de outros episódios como o "Louco da Cabana" e "Não te enrugue couro velho que te quero pra tambor" que muitos fazem questão de inserir na lista. É uma paródia do livro Fausto de Goethe. Aqui, o Dr. Fausto (Bolaños) um velhinho senil, é apaixonado pela sua criada Margarida (Meza), só que a bela e jovem moça nem dá bola pro velhinho. Cansado de ser rejeitado, ele recebe a visita do diabo Mefistófeles (Valdez). O diálogo é clássico: "Você não tem idéia de quem eu sou - diz o diabo- Veja, tenho dois chifres e um rabo." E  Fausto pergunta: "Você é um boi?". No fim das contas, Fausto aceita o trato e ganha de presente uma varinha mágica, o "Chirrin Chirrion do diabo". Quando ele quer algo diz a palavra mágica Chirrin, quando não quer mais, Chirrion. O episódio tem um clima soturno ,mas que poderia ser melhor já que outros episódios que não são nem de terror, (como o das pulgas amestradas) faz melhor uso da iluminação.  Tem a própria presença do esquerdinha, por isso acabo considerando um episódio de terror.


A Casa Mal Assombrada - 2ª VERSÃO (En la casa del fantasma hasta los muertos se asustan, 1976)

Este é a segunda versão de um episódio da casa assombrada, sendo um remake do episódio de 1974. Aqui a trama e as situações são as mesmas, só há uma troca de atores para certos personagens. Sai a "louca dos dinossauros" de Angelines Fernandes e entra um personagem parecido, desta vez feito por Ramón Valdez. O personagem do mordomo desta vez é feito por Ruben Aguirre, o Prof. Girafales. É nessa versão que há o personagem sinistro do Monge Louco (ou "Longe Moco", como diz o Chapolin na hora do pavor). Novamente há o eficiente clima de mistério e não podemos nos esquecer do efeito sonoro daquele lobo uivando, que tinha nos filmes da Hammer. Clássico!


Perdão, é aqui onde vive um morto? (Perdón, aquí es donde vive el muerto?, 1977)

Neste remake de um episódio homônimo de 1974 e inédito no Brasil, um cientista louco (Villagran) criou um monstro que para se manter vivo, deve sugar o sangue de belas jovens. Quando uma moça (Meza) se perde no cemitério, pede ajuda ao Chapolin. Este é um dos episódios que mais flerta com o horror, inclusive com esse detalhe macabro do morto ter que se alimentar de sangue. Quem interpreta o morto provavelmente é Ruben Aguirre (o prof Girafales) que usa a todo momento uma máscara de Frankenstein. O nome do cientista maluco, inclusive é Lopestein que segundo um personagem é "primo do Dr. Frankestein, mas nasceu em Pirapora" Hahahhaha.O cenário do cemitério é bem realizado, com direito a um túmulo que é uma passagem secreta para um laboratório no subsolo. Hilária é a dublagem do Seu Madruga, que mesmo de poncho e sombrero, tem sotaque de Minas Gerais, uai!


Riacho Molhado ( El fantasma del piel roja, 1977)


Remake de um esquete dos primórdios da série. Numa cabana nas montanhas (Evil Dead style) uma mulher e seu pai (Meza e Edgar Vivar, o Sr. Barriga) são aterrorizados por um fantasma de um pele vermelha, o terrível Índio Riacho Molhado (Villagran). 





Nós e os Fantasmas (Más vale 100 fantasmas volando que uno en la mano, 1978)

Num teatro abandonado, uma jovem atriz (Meza) resolve procurar emprego. Lá conhece um misterioso homem (Valdez) que diz ser o diretor de teatro Massimo Tortura (que nome genial!) que rapidamente a contrata. Estranhando o local, a atriz passa a explorá-lo e descobre estranhos tipos como o zelador ancião (Aguirre), um ator meio louco (Villagran) e um cadáver que aparece em diversos lugares (Horacio Bolaños, o Godinez). Parte do episódio foi filmado num teatro real, o que ajudou no clima. As cenas das "aparições" dos fantasmas e as gags com o cadáver são divertidas, mas falta um clima maior de mistério.


O Lobisomem (Al hombre lobo le hacen daño las caperucitas verdes, 1978)


A trama é praticamente a mesma do episódio do Abominável Homem das Neves, inclusive Ramon Valdez interpreta o vilão. Um casal de mochileiros (Meza e Villagran) se perdem na floresta e decidem passar a noite numa cabana, mas o misterioso caseiro (Aguirre) os adverte que é lua cheia e em breve aparecerá o Lobisomem. A ajuda do Chapolin se torna inevitável. A pouca duração do episódio (14 min em média), tira grande parte da graça e o confronto entre Chapolin e o Lobisomem não é muito interessante. Mas novamente tem a favor o clima e os efeitos sonoros.




Menção Honrosa:
O Show deve continuar Parte 1 (La función debe continuar pt1)

O "Show Deve Continuar" foi uma série de 4 episódios onde se fazia uma homenagem ao Cinema. Um velhinho aposentado (Valdez) está triste porque o estúdio cinematográfico onde trabalha será vendido para dar lugar a um condomínio. Inconsólável, chama o Chapolin somente para juntos fazerem um tour no estúdio e relembrarem os filmes que foram feitos lá. Há homenagens a Chaplin, Gordo e o Magro, Jerry Lewis e muitos outros, além de paródias de Cleópatra e até de Quo Vadis! A primeira parte da série por incrível que pareça não foi exibida no Brasil. Mas é aqui em que há um esquete onde homenageiam Frankenstein e seu ator, Boris Karloff. Ruben Aguirre interpreta o monstro, que aqui se atrapalha todo para destruir uma piñata.




O interessante dos episódios de "terror" é que em todos eles há uma desmistificação dos vilões. Em todos (com exceção de "Perdão, é aqui onde vive um morto?" e "Panchostein"), há sempre uma revelação que mostraque todos os elementos sobrenaturais na verdade são forjados.

Na esquete O Vampiro, é revelado no último momento que o sujeito não era um vampiro e sim um louco fugido do manicômico que pensava ser um vampiro. O raiar do dia, portanto o derrota por agir em sua loucura e não pelo fato de ser realmente um vampiro.  Em outra esquete La Casa De los Fantasmas o pai da menina confessa que usou truques eletrônicos para que a obsessão em ver fantasmas da filha acabasse. Em ambas as esquetes da Chorona, ela e seu filho zumbi revelam que tudo era uma brincadeira para testar a coragem do Chapolin.

Em As Pirâmides do Egito, o sacerdote é um salafrário que roubou a múmia original, sequestrou o personagem de Carlos Villagran, o dopou  e o vestiu como múmia. Em ambas versões da Casa Mal Assombrada os antagonistas são moradores antigos do casarão, que por serem pobres não querem perder o local onde moram. E em ambos os episódios, recebem o perdão dos donos da mansão e podem ficar com a casa. Na esquete de 1980, o motivo é outro: assustavam os hóspedes da mansão para roubarem suas posses. Em O Tesouro do Pirata Fantasma, é revelado que o tal fantasma era fruto da imaginação dos presentes, uma espécie de ilusão coletiva maximizada pelo clima do local e pelas lendas que o circundavam. O fim de A Mansão dos Duendes revela que o personagem de Valdez usava fantoches eletrônicos que se passavam pelos duendes, para afugentar os moradores e comprar a casa por um preço mais barato do que realmente valia. Em Nós e Os Fantasmas, Riacho Molhado, O Lobisomem e O Abominável Homem das Neves os antagonistas são atores travestidos dos personagens seja para garantir a posse de um teatro, para vender fotos do lobisomem ou para que houvesse uma maior incidência de turistas em certos locais. Não analiso De Acordo Com o Diabo, já que por ser uma paródia de uma obra existente (Fausto, de Goethe), ele teve que de uma forma ou outra ficar preso ao livro e à figura do Mefistófeles. Além disso, a história de Fausto era contada pelo Chapolin dentro de um episódio "normal" do seriado que era sobre ganância e poder. "Perdão, é aqui onde vive um morto?" Não tem seu final  exibido pelo SBT,mas consegui assisti-lo pelo Youtube e é só uns segundos a mais. Os créditos se desenrolam e não há uma revelação sobre o monstro, então se pode afirmar que o Chapolin enfrentou um monstro de verdade da mesma forma que na esquete Panchostein.

Curioso é que em outros episódios do Chapolin, como nos episódios de "ficção científica" ou de "fantasia", as situações anormais são mais aceitas. Por isso mesmo, o Chapolin realmente enfrentou marcianos, venuzianos, discos voadores, bruxas e etc. Mas nunca lobisomens ou fantasmas "de verdade". Alienígenas e bruxas são mais aceitos que os personagens de horror. Curioso não é?
Parafraseando aquela fala do Chapolin: "Eu não acredito nos mortos, eles são muito mentirosos".


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Termino esse imenso post com dois esquetes que eu não havia visto até pesquisar: um esquete de 1970, também chamado de EL VAMPIRO dessa vez com Ruben Aguirre como o vampiro (e ao que parece é um vampiro de verdade). E também PANCHOSTEIN, uma versão cômica de Frankenstein.

Também criei uma lista de reprodução no Youtube com a maioria dos episódios que resenhei:
http://www.youtube.com/user/tipoc#grid/user/C61B8F0C5C1EBDFD



EL VAMPIRO




PANCHOSTEIN